sexta-feira, 20 de setembro de 2013

PROFESSOR E CIDADANIA


         De repente descobriram a cidadania: autoritários de ontem viraram baluartes de reivindicações populares, a fome virou tema de televisão, discriminação e racismo frequentam os papos dos bares da moda. Cada qual tem sua opinião a respeito, mas uma coisa pelo menos todos têm em comum: cabe ao professor papel fundamental na formação de jovens com consciência de cidadania plena, direitos e deveres.
         Fico contente com isso. A percepção, pela sociedade, da importância do professor já é um passo importante, partindo de um país que só tem denegrido e humilhado os professores, por meio de salários indignos, condições de trabalho desumano e total falta de respeito profissional e humano. Não é, afinal, no Brasil que muitas pessoas se deliciam com o humor chulo do Sr. Chico Anísio, conduzindo um programa em que o professor é idiotizado, os alunos são boçais estereotipados, o processo de ensino se resume a uma soma de informações de almanaque, descosturas (como se ensinar se resumisse a isso) e todos os tipos de preconceitos (raciais, nacionais, sexuais, etc.) correm soltos? Não é no Brasil em que se confessar professor provoca condescendente piedade? Não é aqui que muitos professores nem sequer tem talão de cheques, pois os seus ganhos não os qualifica para isso junto ao banco?
         (...) É a este professor que hoje nos dirigimos solicitando aulas de cidadania, a este professor que não tem sequer o dinheiro necessário para comprar livros, instrumentos básicos para sua formação, tão necessários quanto o estetoscópio para o médico ou a pá para o pedreiro. Este professor que, quando lê, o faz apenas no livro didático que adotou para seus alunos e que acaba funcionando como única fonte de informações também para ele.
         Tenho encontrado, ao longo destes últimos anos, notáveis e incríveis centros de excelência, mesmo em escolas públicas de periferia, com alunos carentes atingindo desempenho surpreendente, graças ao trabalho dedicado e inteligente de seus professores. Há também várias ações inteligentes desenvolvidas por autoridades educacionais lúcidas. O fato, porém, é que ações eventuais ou isoladas não são suficientes. Nosso sistema educacional necessita uma ampla reforma, para qual, afirmo sem medo, temo recursos humanos potencialmente capazes. Dinheiro é necessário, mas não é tudo: muitas prefeituras chegam ao final do exercício sem conseguir, por falta de projetos, gastar toda a verba que, por lei, são obrigadas a empregar na educação.

REFERÊNCIAS

PINSKY, Jaime. Professor e Cidadania. In: PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. 18ª edição. São Paulo: Ática, 2004.


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