De repente descobriram a cidadania:
autoritários de ontem viraram baluartes de reivindicações populares, a fome
virou tema de televisão, discriminação e racismo frequentam os papos dos bares
da moda. Cada qual tem sua opinião a respeito, mas uma coisa pelo menos todos
têm em comum: cabe ao professor papel fundamental na formação de jovens com
consciência de cidadania plena, direitos e deveres.
Fico contente com isso. A percepção,
pela sociedade, da importância do professor já é um passo importante, partindo
de um país que só tem denegrido e humilhado os professores, por meio de
salários indignos, condições de trabalho desumano e total falta de respeito
profissional e humano. Não é, afinal, no Brasil que muitas pessoas se deliciam
com o humor chulo do Sr. Chico Anísio, conduzindo um programa em que o
professor é idiotizado, os alunos são boçais estereotipados, o processo de
ensino se resume a uma soma de informações de almanaque, descosturas (como se
ensinar se resumisse a isso) e todos os tipos de preconceitos (raciais,
nacionais, sexuais, etc.) correm soltos? Não é no Brasil em que se confessar
professor provoca condescendente piedade? Não é aqui que muitos professores nem
sequer tem talão de cheques, pois os seus ganhos não os qualifica para isso
junto ao banco?
(...) É a este professor que hoje nos
dirigimos solicitando aulas de cidadania, a este professor que não tem sequer o
dinheiro necessário para comprar livros, instrumentos básicos para sua
formação, tão necessários quanto o estetoscópio para o médico ou a pá para o
pedreiro. Este professor que, quando lê, o faz apenas no livro didático que
adotou para seus alunos e que acaba funcionando como única fonte de informações
também para ele.
Tenho encontrado, ao longo destes
últimos anos, notáveis e incríveis centros de excelência, mesmo em escolas
públicas de periferia, com alunos carentes atingindo desempenho surpreendente,
graças ao trabalho dedicado e inteligente de seus professores. Há também várias
ações inteligentes desenvolvidas por autoridades educacionais lúcidas. O fato,
porém, é que ações eventuais ou isoladas não são suficientes. Nosso sistema
educacional necessita uma ampla reforma, para qual, afirmo sem medo, temo
recursos humanos potencialmente capazes. Dinheiro é necessário, mas não é tudo:
muitas prefeituras chegam ao final do exercício sem conseguir, por falta de
projetos, gastar toda a verba que, por lei, são obrigadas a empregar na
educação.
REFERÊNCIAS
PINSKY,
Jaime. Professor e Cidadania. In:
PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. 18ª edição. São Paulo: Ática, 2004.
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