quinta-feira, 5 de março de 2020

3º ENSINO MÉDIO “B”: ATIVIDADE DE SOCIOLOGIA


O texto abaixo foi extraído do livro “O Suicídio”, escrito por Émile Durkheim em 1897. Nele, o autor estuda esse fato social a partir da aplicação das regras do método sociológico. O suicídio é analisado não da perspectiva do indivíduo, mas da sociedade. Faça uma leitura e análise do texto “O suicídio anômico” e redija o seu comentário interpretativo.


Figura: ÉMILE DURKHEIM

v   

O SUICÍDIO ANÔMICO

É fato conhecido que as crises econômicas têm uma influência agravante sobre a propensão ao suicídio. Em Viena, em 1873, eclode uma crise financeira que atinge seu máximo em 1874; imediatamente, o número de suicídios se eleva. De 141 em 1872, eles sobem para 153 em 1873 e para 216 em 1874, com um aumento de 51% com relação a 1872 e de 41% com relação a 1873.
A prova de que essa catástrofe é a única causa desse crescimento é o fato de ele ser sensível, sobretudo no momento em que a crise se chegou ao estado agudo, ou seja, durante os quatro primeiros meses de 1874. De 1º de janeiro a 30 de abril, 48 suicídios haviam sido contados em 1871, 44 em 1872, 43 em 1873; houve 73 em 1874. O aumento é de 70 %.
[...] Mas a que essas crises devem sua influência? Será porque, fazendo diminuir a riqueza pública, elas aumentam a miséria? Será porque a vida se torna mais difícil e as pessoas renunciam a ela com maior facilidade? A explicação seduz por sua simplicidade e, aliás, conforma-se à concepção corrente do suicídio. No entanto, os fatos contradizem.
Com efeito, se as mortes voluntárias aumentassem porque a vida se torna mais dura, elas deveriam diminuir sensivelmente quando o bem-estar se torna maior. Ora, embora quando o preço dos alimentos de primeira necessidade se eleva excessivamente o mesmo ocorra, geralmente, com os suicídios, não se constata que eles diminuam para menos da média no caso contrário.
[...] Se, portanto, as crises industriais ou financeiras aumentam os suicídios, não é por empobrecerem, uma vez que crises de prosperidade têm o mesmo resultado; é por serem crises, ou seja, perturbações da ordem coletiva. Toda ruptura de equilíbrio, mesmo que resulte em maior abastança e aumento da vitalidade geral, impele à morte voluntária. Todas as vezes que se produzem graves rearranjos no corpo social, sejam eles devidos a um súbito movimento de crescimento ou a um cataclismo inesperado, o homem se mata mais facilmente.

DURKHEIM, Émile. O Suicídio: Estudo de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 303-311.

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